O Manifesto caiçara - por Marcus Vinicius Batista
http://conversasedistracoes. blogspot.com.br/2013/01/o- manifesto-caicara.html
É impossível ter certeza e não me arriscaria a responder ou julgar o entendimento delas, mas tenho fé que cerca de 100 pessoas testemunharam, no último sábado, no Teatro do Sesc, em Santos, um sinal de mudança. Como se o teatro, endereço ocular de grandes espetáculos, discretos fracassos, artistas de raro talento e celebridades alçadas e perdidas nas coxias, percebesse que naquela noite renascia uma cultura. Na enésima reinvenção de si mesma, energizada pela persistência em se manter na frente de batalha.
O teatro observou o parto normal – com a inerência das dores – de uma lenta metamorfose nas entranhas de Santos. E a duas quadras do mar, laço de amor que empurrava artistas de variadas origens à iluminação do palco.
No espetáculo “Percurtindo Mundos – Poéticas para um novo tempo”, o capitão da nau é o multi-instrumentista Márcio Barreto. Mais do que talentoso, ele é um manifestante político. Parece uma criança que se diverte por horas dentro da bagunça organizada do quarto, onde somente ela sabe onde ficam os brinquedos e até onde se pode viajar.
Inquieto e
aglutinador, Márcio conduziu a embarcação, repleta de músicos e poetas,
com ares de corsário, flexível ao balanço das marés de vanguarda, ágil
em adaptar o navio às alterações de curso enquanto saqueava as novas
poéticas que surgiam no navegar do espetáculo.
Assistir ao Percutindo Mundos é entender que se está diante de um processo singular. É um traçado que rasga as linhas óbvias da cultura de massa. Se o maestro Gilberto Mendes é a inspiração, o mar interpreta o fio condutor dos olhares, talvez o que mais os aproxime dentro do palco.
O mar reside nas palavras dos poetas convidados, ao vivo ou por suas criações. Gente como Ademir Demarchi, Marcelo Ariel, Márcio Barreto, Madô Martins, Flávio Viegas Amoreira, Regina Alonso, Narciso de Andrade, Roldão Mendes Rosa, Martins Fontes, Vicente de Carvalho e Rui Ribeiro Couto.
O mar está nas mãos do pianista Antônio Eduardo, que navegam pelo piano a traçar obras que homenageiam a terra caiçara. O mar que regurgita sons nas mãos do percussionista Felipe Faustino e nas cordas de Bruno Davoglio e Robson Peres.
O mar é um peixe hospedeiro que cola nos movimentos de corpo de Célia Faustino, a única mulher em cena, hábil em transpirar os poemas como extensões de sua dança. Ou seria o contrário?
Este grupo resiste e insiste em nos indicar que é possível fisgar, limpar e digerir uma cultura local, impregnada de experiências pessoais, porém atenta à dinâmica social e política do litoral. Esta cultura caiçara em gestação (luto contra a tentação da palavra “nova” pelo reducionismo do rótulo) é coletiva, embora respeite as individualidades artísticas, num diálogo horizontal.
A coletividade, no entanto, não se resume à reunião de artistas no palco. Ela só existe por conta de uma intersecção que exige a criação social, como uma sessão de jazz que incorpora o som das ondas da baía.
Neste parto coletivo, o público é também pai e mãe. Como na imagem acima, que registra o embarque de parte da plateia no palco do Sesc, cúmplice em recriar dança e música que havia acabado de vivenciar.
Assistir ao Percutindo Mundos é entender que se está diante de um processo singular. É um traçado que rasga as linhas óbvias da cultura de massa. Se o maestro Gilberto Mendes é a inspiração, o mar interpreta o fio condutor dos olhares, talvez o que mais os aproxime dentro do palco.
O mar reside nas palavras dos poetas convidados, ao vivo ou por suas criações. Gente como Ademir Demarchi, Marcelo Ariel, Márcio Barreto, Madô Martins, Flávio Viegas Amoreira, Regina Alonso, Narciso de Andrade, Roldão Mendes Rosa, Martins Fontes, Vicente de Carvalho e Rui Ribeiro Couto.
O mar está nas mãos do pianista Antônio Eduardo, que navegam pelo piano a traçar obras que homenageiam a terra caiçara. O mar que regurgita sons nas mãos do percussionista Felipe Faustino e nas cordas de Bruno Davoglio e Robson Peres.
O mar é um peixe hospedeiro que cola nos movimentos de corpo de Célia Faustino, a única mulher em cena, hábil em transpirar os poemas como extensões de sua dança. Ou seria o contrário?
Este grupo resiste e insiste em nos indicar que é possível fisgar, limpar e digerir uma cultura local, impregnada de experiências pessoais, porém atenta à dinâmica social e política do litoral. Esta cultura caiçara em gestação (luto contra a tentação da palavra “nova” pelo reducionismo do rótulo) é coletiva, embora respeite as individualidades artísticas, num diálogo horizontal.
A coletividade, no entanto, não se resume à reunião de artistas no palco. Ela só existe por conta de uma intersecção que exige a criação social, como uma sessão de jazz que incorpora o som das ondas da baía.
Neste parto coletivo, o público é também pai e mãe. Como na imagem acima, que registra o embarque de parte da plateia no palco do Sesc, cúmplice em recriar dança e música que havia acabado de vivenciar.
A próxima
escala é a Pinacoteca Benedito Calixto. No próximo sábado, acontece o
III Sarau Santista, às 16 horas. É mais uma página para a celebração
cultural (e revolução política) que começa a se desenhar, a seu próprio
caminhar caiçara, na cidade.
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