“Aerografias - celebração móvel” procura
ressignificar a arte caiçara trazendo-a para o âmbito do contemporâneo e do
experimental, possibilitando novos recortes curatoriais e combinações
multi-linguísticas, onde a música se une à literatura, à dança, ao vídeo e à
filosofia para refletir sobre nossa movência no universo e criar novos
significados e possibilidades de expressão através de zonas proximais de ressignificação
metalingüística, estabelecendo questionamentos sobre a atual condição
identitária do homem e do lugar em que vivemos, onde culturas específicas são
engolidas por centros irradiadores e esquecidas pela cultura de massa. Uma
percepção da arte como experiência inventiva, fundadora e identitária em um
universo fragmentado pelo cotidiano. Baseada
nas especulações de Stuart Hall, sociólogo e pensador jamaicano, acerca da
identidade cultural na pós-modernidade, os intérpretes-criadores transitam pela
obra dos escritores portugueses Jorge Melícias e Luís Serguilha e suas relações
com a poética dos escritores brasileiros Flávio Viegas Amoreira e Marcelo Ariel.
A paisagem sonora baseia-se na obra do compositor português Jorge Peixinho e do
compositor brasileiro Gilberto Mendes – executadas pelo pianista Antônio
Eduardo, assim como na música-cinema (ambiência derivada pelo processo de
colagem de fragmentos de filmes, discursos, ruídos, etc.) do grupo de música
contemporânea caiçara Percutindo Mundos.
Vídeo de apresentação:
Vídeo de apresentação:
JUSTIFICATIVA
Ítalo
Calvino em “Seis propostas para o próximo
milênio”- uma série de conferências que daria nos Estados Unidos entre
1985/1986, alertava para uma crescente crise da linguagem através da expansão
das línguas ocidentais modernas e suas literaturas. Enquanto o objeto-livro se
caracterizava como o conhecemos hoje, o desenvolvimento da Internet começava a
abalar suas estruturas, pois o nomadismo que possibilitava a combinação de
diferentes signos, suas traduções, fusões
e re-significações, encontra nas redes mundiais um campo fértil para suas
transformações.
Novas tecnologias, como a computação em nuvens, possibilitam a construção virtual de uma inteligência coletiva, feita através de identidades pessoais. Em filosofia, a identidade pessoal é o que define o indivíduo como tal em um ou outro momento de sua existência, um conjunto de referências e signos que possibilitam o reconhecimento do ser. Mas como assegurar a identidade em um mundo onde podemos mudá-la e reinventá-la a cada instante, onde as referências étnicas, raciais, lingüísticas, religiosas, regionais e nacionais modificam-se de acordo com as necessidades surgidas pelos processos de globalização - problema recentemente discutido pelo escritor angolano Valter Ugo Mãe em “A máquina de fazer espanhóis” e também comentado por J. L. Borges quando sentenciava que não era um escritor latino-americano, mas sim europeu, porque possuía em sua família o sangue inglês, espanhol, português e talvez judeu. Tamanha diversidade e fragmentação, segundo Stuart Hall, aviva uma “crise de identidade oriunda do deslocamento das estruturas e processos centrais das sociedades contemporâneas, abalando os antigos quadros de referência que proporcionavam aos indivíduos uma estabilidade no mundo social”. Ironicamente, no início de nossa colonização portuguesa, definíamo-nos como não-reinóis (não nascidos no Reino): não éramos brasileiros, não éramos mestiços, não éramos caiçaras, éramos o que não éramos.
Percutindo Mundos |
Novas tecnologias, como a computação em nuvens, possibilitam a construção virtual de uma inteligência coletiva, feita através de identidades pessoais. Em filosofia, a identidade pessoal é o que define o indivíduo como tal em um ou outro momento de sua existência, um conjunto de referências e signos que possibilitam o reconhecimento do ser. Mas como assegurar a identidade em um mundo onde podemos mudá-la e reinventá-la a cada instante, onde as referências étnicas, raciais, lingüísticas, religiosas, regionais e nacionais modificam-se de acordo com as necessidades surgidas pelos processos de globalização - problema recentemente discutido pelo escritor angolano Valter Ugo Mãe em “A máquina de fazer espanhóis” e também comentado por J. L. Borges quando sentenciava que não era um escritor latino-americano, mas sim europeu, porque possuía em sua família o sangue inglês, espanhol, português e talvez judeu. Tamanha diversidade e fragmentação, segundo Stuart Hall, aviva uma “crise de identidade oriunda do deslocamento das estruturas e processos centrais das sociedades contemporâneas, abalando os antigos quadros de referência que proporcionavam aos indivíduos uma estabilidade no mundo social”. Ironicamente, no início de nossa colonização portuguesa, definíamo-nos como não-reinóis (não nascidos no Reino): não éramos brasileiros, não éramos mestiços, não éramos caiçaras, éramos o que não éramos.
Antonio Eduado |
Acredita-se que exista um centro irradiador de cultura responsável pela influência e direcionamento da cultura mundial. Mas saber que tais e quais países influenciam outros culturalmente, seja através de seu idioma, de seus costumes, música, filmografia, etc., não significa, necessariamente, que não sejam influenciados também. A tendência à miscigenação cultural é um caminho irreversível, se por um lado verifica-se a massificação da cultura, por outro, a possibilidade de pequenas culturas terem atenção é maior. A Tropicália, por exemplo, que na década de 1960 influenciou a música brasileira, nos dias de hoje tem influenciado a música americana. Dentro de um processo de reconhecimento e reavaliação musical, os americanos perceberam a incrível tendência que a Tropicália continha: exatamente o poder de romper barreiras e perpetuar a miscigenação cultural. Pois, como comentaria Marshall McLuhan, vivemos em uma “aldeia global, sintetizada por uma rede infinita de mensagens e meios, de novas mídias de comunicação, onde podemos legar nossas experiências e seus impactos sensoriais”.
Célia Faustino e Márcio Barreto |
Na década de 1980, Antonio Carlos Diegues (NUPAUB – USP /SP) publicava as primeiras pesquisas sobre a identidade cultural caiçara, tema até então desprezado pelo mundo acadêmico. Segundo Diegues, o caiçara - palavra de origem tupi que significa “armadilha ou cercado de galhos”, é o indivíduo de comunidades tradicionais de pescadores localizadas no litoral sul do Rio de Janeiro, no litoral de São Paulo e no litoral norte do Paraná. Vive em comunidades isoladas e sobrevive basicamente da pesca e da agricultura de subsistência. Cultural e geneticamente é fruto da miscigenação entre índios, portugueses e africanos, ocorrida nos primeiros tempos da colonização. Produz artesanato funcional e seu universo musical baseia-se no Fandango - música original dos salões da nobreza européia que mais tarde ganharia o gosto popular. Sua identidade está na gênese e na formação do povo brasileiro, tendo se propagado através dos bandeirantes paulistas que alcançaram as terras do Paraguai depois de desbravar o Sertão Paulista, Paraná, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Goiás e Mato Grosso levando consigo sua herança cultural, hábitos, crenças e conhecimento. Assim, procuramos refletir sobre como referências locais e históricas possibilitam um processo de re-significação e miscigenação de identidades culturais estrangeiras, trançando um paralelo entre a tradicional identidade caiçara e a contemporânea em sua “movência” e na longevidade de seus signos.
Adilson Félix |
O valor da obra consiste exatamente na preservação e reinvenção desta cultura local e genesíaca - o caiçara visto como expressão de ancestralidade, cosmopolitismo e contemporaneidade, formador de uma identidade nascida de diferentes culturas estrangeiras. Deste modo, o processo criativo, como imagética genesíaca, desdobra-se em releituras identitárias que situam o invisível dentro da ficção social do espaço conduzido pelo discurso poético corporal: a reinterpretação do passado como noção transformadora do presente através do consciente coletivo, suas memórias, tradições, nomadismos e hibridismos. O corpo visto como palavra, lugar, música, afetividade e suas relações com o tempo, espaço, identidade, alteridade e memória – a dança como espaço criativo e simbiótico de permanências instantâneas e habitações momentâneas, o não-lugar, a reinvenção da realidade a partir do contato da pele com um mundo onde a identidade é trocada por máscaras de ideais auto-suficientes e a afetividade substituída pela liquidez das convenções.
OBJETIVO
- discutir a a identidade cultural na ós-modernidade
- celebrar a arte contemporânea caiçara e suas relações com a cultura portuguesa
- celebrar a arte contemporânea caiçara e suas relações com a cultura portuguesa
- resgatar nossas tradições e
misturá-las ao contemporâneo
- estimular a pesquisa e a
criação artística
- facilitar à população às fontes de cultura
- estimular a produção, o intercâmbio e a difusão cultural e
artística
- conectar diferentes expressões culturais
- preservar e divulgar o patrimônio cultural e histórico
brasileiro
FICHA TÉCNICA
Número de integrantes: 07
(sete)
Detalhamento: Espetáculo de Música, Dança, Vídeo e Literatura
Nome: “Aerografias – celebração móvel”
Nome do grupo:
Percutindo Mundos, Núcleo de Pesquisa do Movimento - Imaginário Coletivo de Arte
Concepção e direção: Márcio Barreto
Intérpretes-criadores: Célia Faustino, Márcio Barreto
Músicos: Antônio
Eduardo, Márcio Barreto, Célia Faustino, Bruno Davoglio, Robson Peres
Direção Musical: Percutindo
Mundos
Figurino: Núcleo de
Pesquisa do Movimento - Imaginário Coletivo de Arte
Fotografia: Adilson Félix
Criação de Vídeo: Márcio Barreto
Duração: 01
hora
HISTÓRICO DO GRUPO
Núcleo de Pesquisa
do Movimento – Imaginário Coletivo de Arte - formado por artistas e
pesquisadores do litoral paulista em suas diferentes linguagens, tem como
proposta pesquisar a “Arte Contemporânea Caiçara”, valorizando raízes e
misturando-as à contemporaneidade. O Núcleo de Pesquisa do Movimento -
pertencente ao Imaginário Coletivo de Arte - formado em fevereiro de 2011, é
resultado de anos de pesquisas desenvolvidas em diferentes áreas que culminaram
na busca de uma nova sintaxe corporal, através da reflexão sobre os processos
criativos na Arte Contemporânea Caiçara. Seus integrantes convergem da dança,
eutonia, teatro, circo, música e “Le Parkour”. Estão diretamente ligados a
experimentação através de núcleos de pesquisas desenvolvidos no Espaço de
Consciência Corporal Célia Faustino (2003), no grupo Percutindo Mundos – música
contemporânea caiçara (2008) e no Projeto Canoa – pesquisa da Cultura Caiçara (2007).
Participou da Bienal Internacional de Dança do SESC (2011), Virada Cultural e
Virada Cultural Paulista (2011), Cultura Livre SP e III Circuito Vozes do
Corpo com o espetáculo "Homo Ludens" - dança contemporânea (2012).
Percutindo Mundos - formado em janeiro de 2008, o grupo tem se
apresentado regularmente desde agosto de 2011 no SESC Bertioga com os
espetáculos Universo em Movimento, Universo em Gentileza, Percutindo o Samba e
Mundocorpo, além de se apresentar em São Paulo e Rio de Janeiro em diferentes
eventos, tais como: 30 anos do Lira Paulistana (FUNARTE - 2010), Itinerâncias
e Cine Clube Paraty (Casa da Cultura de Paraty /RJ - 2008 e 2011). tem sua criação voltada a re-significação de
identidades culturais, unindo o ancestral caiçara ao contemporâneo através da
literatura, filosofia, dança e artes visuais. Suas paisagens sonoras remetem à
influência das culturas indígena brasileira, portuguesa e africana misturadas à
urbanidade e ao cosmopolitismo. Sua música é caracteriza pela harmonia dos
timbres, o minimalismo, a aleatoriedade e a melodia percussiva. A apresentação
é marcada pela criatividade, misturando linguagens e provocando reflexões.
Todas as músicas são autorais..
HISTÓRICO DOS
INTEGRANTES
Adilson Félix - fotógrafo nascido em São Vicente, SP, morou na
Baixada Santista até ir para São Paulo. Estudou Fotografia na Escola Panamericana
de Arte. Foi para Paris, onde vivei 18 anos trabalhando com jornais e revistas
do Brasil e de outros países. A experiência na colaboração com veículos de
diferentes linhas editoriais vai de reportagens sobre diversos assuntos por
países da Europa, como o circuito de moda internacional prêt-à-porter e alta
costura, pautas em Israel e Palestina, conflitos e fome no Sudão, epidemia de
AIDS em Uganda, fotos no Quênia, Ruanda, Tanzânia, cobertura de viagens
oficiais de república, governadores e outros políticos, espetáculos culturais,
retratos de personalidades e artistas de diferentes horizontes, trabalhos em
decoração para criadores e revistas especializadas e fotos de moda. A
possibilidade do contato com vários segmentos da fotografia, passando de um
tema a outro, fez com que, técnica e experiência, se somassem para desenhar um
trabalho bastante eclético.
Antônio Eduardo - Participando com freqüência de festivais,
encontros de música contemporânea e congressos nacionais e internacionais em
musicologia, Antonio Eduardo vem se destacando como um pianista e pesquisador
voltado para a música de seu tempo. Escreveu “O Antropofagismo na obra
pianística de Gilberto Mendes” (AnnaBlume/FAPESP), além de diversos artigos
para periódicos sobre música contemporânea. Atualmente dirige na Bélgica a
coleção voltada para música contemporânea brasileira Antonio Eduardo Collection,
constando em seu catálogo obras de Gilberto Mendes, Silvia Berg, Sergio
Vasconcelos Correa, Rodolfo Coelho de Souza e Almeida Prado.
Célia Faustino – mapeada pelo Rumo Itaú de Dança, é formada em Ballet Clássico pela Escola
Municipal de Ballet em Santos (1972 a
1980). Formada em Ballet
Clássico pela Royal Academy of Dancing (1980 a 1985). Especialização em Dança Moderna nas técnicas
Grahan e Limón (1986 a
1988). Especialização em
Consciência Corporal com Klauss Vianna (1988 a 1990). Cursou aulas de New
Dance e Contato Improvisação (1990 a
1996). Formada pela Escola Brasileira de Eutonia (1998 a 2001). Formada pela Escola do
Movimento Ivaldo Bertazzo (2005 a
2006). Professora de técnica de dança na Faculdade de Artes Cênicas CARMO (1985
a 1986). Professora de Dança Moderna na Faculdade de Dança UNIMES (1988 A 1996). Professora de Dança
Expressiva, Alongamento e Eutonia no SESC/Santos (1988 a 2002). Bailarina do
Corpo Estável de Dança da Secretária de Cultura de Santos (1992 a 1994).
Iniciou carreira solo como intérprete-criadora em 1994. Participou de três
Bienais de Dança no SESC / Santos. Atualmente é diretora do Espaço de
Consciência Corporal Célia Faustino. É integrante do grupo experimental de
música contemporânea caiçara “Percutindo Mundos”, do Núcleo de pesquisa do
Movimento e do Imaginário Coletivo de Arte.
Márcio Barreto nasceu em 10 de maio de
1970, em Santos /SP. Dramaturgo, diretor e ator: Fundador e diretor do grupo
Teatro Canoa e Imaginário Coletivo de Arte. Dirige, atua e assina a dramaturgia
de “Atro Coração” (Teatro Canoa) e “Ácidos Trópicos – uma livre criação sobre a
obra de Gilberto Mendes” (Imaginário Coletivo de Arte). Atuou em “Poetar
Acordar para o Sol” (direção Douglas Gonçalves), “O Guará do Lago Encantado
(grupo TVG, direção Paulo Maurício),” Tem Cupim na Torre da Igreja “(grupo TVG, direção Paulo Maurício), “Perto de Lugar
Nenhum” (Kabuk, direção Egbert Mesquita). Atuou no filme “Amanhã Nunca Mais” do
diretor Tadeu Jungle e na minissérie da Globo “Amor em Quatro Atos” .
Assistente de Direção e diretor de núcleo na “ Encenação da Fundação da Vila de São Vicente 2012”.
Intérprete-criador e um dos diretores / fundadores do Núcleo de Pesquisa do
Movimento – Imaginário Coletivo de Arte. Atua em “Homo ludens – fluxos, lugares
e imprevisibilidades ”, “Exílios: cartas
ao vento” com Célia Faustino, “Um a Um”- espetáculo fruto da residência com o
grupo Lês Ballets C de la B (Bélgica) e
em diversas intervenções no espaço público. Vídeo-cineasta: “Totem – o universo
por debaixo da pele” (média metragem) e inúmeros curtas na Internet. Artista
circense formado pela Escola Livre de Circo (Oficina Cultural Regional Pagu –
Santos /SP) em acrobacias aéreas, atuou nos espetáculos “Marcas de Plínio” e
“Pagu”. Músico: fundador do grupo experimental “Percutindo Mundos”. Compositor
e multi-instrumentista (rabeca, flauta doce e contralto, clarinete, acordeom,
teclado, escaleta, violão, banjo e percussão). Luthier: criador dos
instrumentos quimbau, trimbau, tum, flauta smetakiana, adufo calunga.
Fotógrafo: exposições na Pinacoteca Benedito Calixto (Santos /SP), Casa da
Cultura de Paraty (Paraty /RJ) e Parque Cultural Vila de São Vicente (São
Vicente /SP). Editor da Edições
Caiçaras, editora artesanal. Escritor: Totem (romance), O Novo em Folha
(poesia), O Ser e o Pensamento (filosofia), Atro Coração (teatro), Nietszche –
ou do que é feito o arco dos violinos (poesia), Ácidos Trópicos – uma livre
criação sobre a obra de Gilberto Mendes (teatro), Wisnikianas – visões
antropofágicas na ilha de São Vicente (teatro). Pesquisador da Cultura Caiçara:
“O Brasil Caiçara – uma outra abordagem sobre a gênese da identidade
brasileira” (palestras na UNESP – São Vicente /SP, USP – São Paulo /SP, Casa da
Cultura de Paraty – Paraty /RJ e Oficina Regional Pagu – Santos /SP). Produtor Cultural: Organizador do “Sarau
Caiçara – Pinacoteca Benedito Calixto” (Mapa Literário do Estado de São Paulo)
e de Encontros Regionais de Cultura Caiçara realizados em São Vicente, Santos e
Paraty. Curador e organizador da Mostra de Arte Contemporânea Caiçara - Santos
/SP, Itinerâncias – Paraty /RJ, Virada Caiçara – São Vicente /SP e Vitrine
Literária – SESC Santos.
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